Rita Ora é destaque no The Sunday Times Culture deste domingo (14) no Reino Unido. A cantora, que recentemente anunciou seu novo single, “Your Song”, deu uma longa entrevista sobre carreira musical e deu detalhes de novas faixas do seu álbum de estreia. Confira a tradução exclusiva abaixo.


Se encontrar com Rita Ora não é fácil. Não digo sobre estar na presença dela – embora tenha algumas complicações – mas sim sobre, estar na realidade, fisicamente no mesmo lugar que a cantora-que-virou-modelo-que-virou-atriz-que-virou-apresentadora-de-TV.

Levou três semanas e muitos continentes para segurar Rita Ora. Do nada ela é convocada para Macau para ser nomeada a artista mais popular e influente na China. Então, Ed Sheeran escreve uma música para ela e ela sai voando para Los Angeles para gravá-la. No meio disso ela aparece no festival Cocahella, na Califórnia (festejando, não performando), e no MET Gala em Nova Iorque. Quase que diariamente ela é fotografada em aeroportos ou eventos, na maior parte das vezes para promover uma das várias marcas pelas quais ela é paga para representar.
Ouvir o seu altamente adiado segundo álbum, o sucessor do bem sucedido álbum de estreia Ora, de 2012, prova ser tão difícil quanto. Por motivos óbvios, suas novas músicas estão guardadas à sete chaves, mas até mesmo uma sessão para ouvir o disco em sua gravadora em Londres vem com dificuldades.

Apenas metade do álbum esteve disponível para ser ouvido, e algumas destas músicas estão incompletas. Depois fica transparecido que pelo menos uma não deve aparecer no álbum, enquanto a sáfica, anteriormente agendada para ser o primeiro single, “Girls”, um dancehall com letra ousada e cheia de diversão com a participação de Charli XCX e a colaboradora de Justin Bieber, MØ, perdeu o lugar por causa de Sheeran. No momento que Ora eu nos encontramos, “Your Song”, uma canção eletrônica grudenta criada exatamente para a dominação via streaming, é a música que será lançada para lembrar aos fãs que a belesa Kosovar de 26 anos conseguiu a fama pela primeira vez por causa de sua voz.

Separar a cantora da marca se prova impossível no entanto, não apenas porque Rita chega em nossa entrevista vestida de Adidas da cabeça aos pés, a companhia pela qual ela desenhou 15 coleções de sucesso. É muito mais sobre sua atitude à seu favor.

Meros dois minutos em sua companhia e eu suspeito que compraria o que quer que fosse que ela estivesse vendendo. Grandes estrelas sugam a energia de lugares. Ora faz o oposto. Seu entusiasmo sem limites sobre qualquer coisa que você menciona é um deleite. Seu tom ao rir da sua risada e sua língua sem travas são tão bons quanto seus visuais de desenho animado. Pergunte se ela está ansiosa por retornar à música e seus olhos brilham.

“Nervosa? Não, estou mais pra faminta”, ela diz. “Estou sedenta para ter essas músicas lançadas. Sinto como se estivesse para dar à luz. Honestamente, é libertador. Como eu posso descrever…? Sabe quando você está de ressaca e toma um banho gelado… ahhh! É assim como me sinto”.

Alguma preocupação sobre suas carreiras auxiliares, que incluem ser uma jurada no The X Factor, The Voice, apresentar o America’s Next Top Model, modelar lingeries e uma linha de maquiagem e aparecer nos filmes de Cinquenta Tons de Cinza, possam ofuscar sua presença na música pop são rapidamente deixados de lado.
“Aqui está o grande ponto”, ela diz, se endireitando. “Tudo o que eu tenho feito tem sido pelo sucesso de minha música. Não teria sido convidada por pessoas com essas oportunidades se eu não tivesse hits. Música é o caminho para tudo. E só porque eu estive for a do cíclo de um álbum não quer dizer que eu parei de ser uma cantora. Lancei músicas, saí em turnê, cantei no Oscar. Estou sempre compondo e gravando. Eu apenas escolhi trabalhar à mais e ainda fazer mais trabalhos em cima de tudo”.

A marca, ela enfatiza, agora é tão importante quanto a sua música. “Lançar um álbum todo ano não é mais o bastante. Você tem que estar visível constantemente. Todo e qualquer trabalho é uma chance de expandir minha plataforma para minha música. Eu não teria ganhado aquele prêmio na China se não fosse pela Adidas. Tenho fãs muito leais lá que amam minhas coleções e que, eu espero, possam amar minha música nova também”.

O problema com a permanente disposição de Ora é que vem, na verdade, de sua longa disputa contratual com a Roc Nation, gravadora de Jay Z, que assinou com ela com a idade de 18 anos e imediatamente a colocou como a musa de um clipe de Drake. Apesar de seu sucesso com seu álbum de estreia, apesar de ser mais na Inglaterra do que nos Estados Unidos, seu sucessor foi engavetado, levando à um processo aberto em 2015 no qual Rita Ora queria ser liberada de um contrato de cinco álbuns. Roc Nation a contra processou antes de ambas as partes resolverem o assunto for a dos tribunais no ano passado, e Ora assinou com a Atlantic Records UK.

Anteriormente ela se fechou diante da frustração sobre a situação, mas hoje em dia ela é só sorrisos. “Nunca é um caminho fácil para qualquer artista. Ninguém nunca irá lhe dizer que conseguiu tudo o que queria em sua carreira. Artistas são dispensados de gravadoras e continuaram em frente para se tornar algumas das maiores estrelas do mundo”.

E sobre as várias músicas que ela gravou anteriormente que dariam um álbum ou mais? “Gravamos músicas que ninguém nunca sequer ouviu, ou melhor, talvez nunca irão. Mas talvez ninguém deveria ouví-las. Entendo que é difícil de acreditar, mas eu sinto que este novo álbum é o que deveria estar sendo lançado”.

Existem também músicas que Ora gravou com um antigo namorado, o DJ superestrela escocês Calvin Harris. Em 2014, logo após seu término doloroso, “I Will Never Let You Down”, escrita por Harris, deu à cantora seu quarto nº1 no Reino Unido. Após o término, o DJ impediu a cantora de performar a música ao vivo, apesar de que o par desde então entrou em um acordo.

Uma das novas músicas de Ora, “Him & Me”, poderia ser facilmente sobre Calvin Harris. “Gostaria de poder odiá-lo como eu costumava, ao invés de amá-lo como eu o amo”, ela canta, belamente, em uma música que começa como uma balada ao piano, antes das batidas dance tomarem conta. “Tive muito envolvimento na letra desta música”. Ela fica feliz em admitir que outras músicas foram completamente escritas por ela. “Tenho aberto minhas emoções neste álbum, o que eu não fiz no passado. Quero expressar meus sentimentos de menina”. Então, a faixa é sobre Harris? Silêncio e um sorriso. Isso é um “sem comentários”? Continua um silêncio, mas o sorriso diminui.

Trabalhar no álbum, que será lançado ainda este ano, começou há oito meses, com Ora revirando sites de streaming, anotando os compositores de suas faixas preferidas do momento e os convidando para trabalharem com ela. Alguns ela colocou no avião e os hospedou em sua própria casa, incluindo os americanos Andrew Watt e Ali Tamposi, com quem ela escreveu “Girls” e “Falling to Pieces”, uma música que tem trompetes e percussão militar. O álbum tem certamente uma variedade, de uma colaboração com o DJ de música eletrônica Marshmello até a madura, glamurosa “Velvet Rope”: escrita pelos colaboradores de Sam Smith, Jimmy Napes e Sam Romans, é uma balada retrô gravada com uma banda completa.

A voz distinta de Ora é o maior destaque, no entanto, muito mais do que foie m seu álbum engessado e dançante de estreia. A cantora que estudava música esteve em negociações com gravadoras desde seus 15 anos de idade, e não tem dúvidas de que ela possa cantar.

Ela parece especialmente emocionada com uma apresentação que ela fez no Vaticano no ano passado, emu ma cerimônia que marcou a canonização de Madre Teresa. “Somos do mesmo país”, ela diz da santa. Feita uma embaixadora honoraria da Republica do Kosovo pelo então presidente Atifete Jahjaga, que a sugeriu para o Vaticano, Ora se lembra com orgulho da noite.

“Ah, foi lindo”, ela diz. “Poder ouvir minha voz naquele salão – incrível acústica, alias – foi incrível. Tinha uma cantora de opera, uma orquestra, e, bem, o Papa e alguns padres. Não sabia para onde olhar, então olhei pra cima das cabeças deles e esperei que desse certo”. Sobre seu figurino: “Obviamente eu não poderia usar minhas boas e velhas roupas de Rita-quase-nua”, ela ri. “Um véu preto e um vestido preto. Não quero comentar muito, porque quero ir pro céu”.

O que é adorável sobre Ora é que não tem um centímetro de diva sobre ela. Quando um smoothie que ela pediu não esteve disponível, ela não poderia ter sido mais doce. Pergunto o que ela faz em seus raros dias de folga. “Encho a cara com meus amigos” é sua resposta instantânea.

Ela recentemente finalizou o último filme da trilogia Cinquenta Tons, e passou meses na Itália gravando “Wonderwell”, um filme independente aonde ela tem seu primeiro papel como protagonista, ao lado da saudosa Carrie Fisher. Ela estará em turnê este ano, e tocando em festivais no verão, mas insiste que seu retorno à música não atrapalhará suas outras carreiras.

“Eu apenas terei que trabalhar ainda mais duro”, ela afirma.