Em um perfil feito pela Billboard, Rita Ora deu uma longa entrevista sobre as múltiplas falhas ocorridas em sua carreira nos Estados Unidos nos últimos anos. Confira a tradução exclusiva.


“Essa sou eu no rádio?”

Rita Ora pausa abruptamente uma conversa sobre os méritos de Nova Iorque e Los Angeles quando o motorista de sua longa e luxuosa van aumenta o volume de seu rádio FM no último. De fato é a música de Rita, “Your Song”, sua nova faixa co-escrita por Ed Sheeran e lançada há algumas semanas, que está tocando no rádio do carro. Ora morde seus lábios e e foca no motorista, que está nos ajudando a chegar rápido no Soho no horário de rush e a parabenizando pela partição. Ela ouve a si mesma cantando “I don’t want to hear sad songs anymore/ I only want to hear love songs” e ri emocionada.

“Uau, esta é a minha primeira vez ouvindo a minha música nova no rádio!”, Ora exclama, suas bochechas levantando seus óculos gigantes. Ela rapidamente pega seu telefone para documentar o momento no Snapchat, mas “Your Song” já havia encerrado e o DJ está adicionando um epílogo entusiástico: “Essa foi Rita Ora, coim sua nova música, ‘Your Song’. Amo essa música!”.

Ora bate na tela de seu telefone e o coloca no bolso, incapaz de fazer o snap em tempo. “Perdi”, ela lamenta. “Mas meu nome estava no rádio!”. Alguns segundos depois ela arruma seu visual no telefone e começa a tocar na tela. “Tinha que mandar uma mensagem pra minha mãe”, ela se desculpa. “Ela está sem acreditar”.

Para Ora, ouvir uma de suas músicas no rádio não deveria ser algo tão importante. A cantora britânica de 26 anos já tem nove hits top 10 no Reino Unido nesta década, seu single de estreia, “How We Do (Party)”, foi um sucesso nas rádios de toda a Europa no lançamento em 2012 e ajudou seu álbum de estreia a debutar em #1 nas paradas do UK quando ela tinha apenas 21 anos de idade. Mas não estamos na Inglaterra e essa uma das duas razões pela qual Ora está emocionada em ouvir “Your Song” no rádio.

Na America, Ora tem um single top 10, e foi como uma artista convidada. Seus maiores hits do outro lado do oceano não emplacaram por aqui. “Your Song”, que se tornou o mais novo top 10 de Rita Ora em seu país nativo em seu lançamento em Maio, ainda não entrou no Hot 100. Ela tem 6 milhões de seguidores no Twitter e quase 12 milhões no Instagram, mas mesmo assim ainda é motivo de piada nas mídias sociais americanos devido a sua constante presença na mídia, mas uma relativa falta de ressonância nos rádios. Ela é uma personalidade nos Estados Unidos, mas não uma superestrela pop. Essa distinção a levou à ser uma chacota (para não dizer ataque em massa generalizado) na internet.

A outra razão pela qual Ora está emocionada? “Your Song” é seu primeiro single solo em dois anos e representa muito um recomeço muito necessitado. Cinco anos atrás Ora foi apresentada como um rosto que deveria ser marcado no pop, uma estrela poderosa como uma personalidade irresistível e uma estratégia agressiva de imprensa. Sua chegada ao mainstream em 2012 veio depois de assinar um contrato de cinco álbuns com a Roc Nation em 2008 e se tornar a mais nova protegida de Jay-Z. Sete anos e meio após esse acordo, em Maio de 2016, Ora finalizou sua separação com a Roc Nation sem ter sequer lançado um álbum na América.

Enquanto reunia hits no UK, Ora foi presa no purgatório da gravadora no país que ela desesperadamente queria conquistar. Ela passou os últimos anos se apresentando em arenas e servindo como conteúdo principal de tabloides em um continente, enquanto não tinha autorização para lançar músicas – e se tornando meme até o quase-esquecimento – em outro.

Mas o passado está no passado, garante Ora, que depois que volta a ficar calma e, que é ao mesmo tempo calorosa e loquaz, uma velha amiga pronta para te encher dos detalhes sobre o que ela estava fazendo durante as férias de verão. “Your Song” é uma re-introdução com altas chances de abrir seu futuro no mainstream americano, mas é relaxada, suave e incrivelmente positiva, combinando sua conta lírica de uma confortável nova paixão com batidas distintas. Depois de tanta frustração que se seguiu, “Your Song” dispensa drama — é um brilhante e grande single pop, muito bem desenhado por Sheeran e o compositor e produtor Steve Mac, com uma confiança que Ora quer exalar na música. “É um novo capítulo”, ela declara. “Quando eu estava no que eu gosto de chamar de ‘terra do limbo’, quando eu não podia lançar músicas por um tempo, eu pensava: ‘Quem sou eu? O que eu sou?’. Eu sou essa garota de West London, essa é quem eu sou car*lho!”.

E assim um álbum americano, gravado em Londres e Los Angeles, está finalmente a caminho, na sua nova casa e gravadora Atlantic Records, previsto para antes do final do ano. Sheeran não é o único grande nome envolvido nos créditos do álbum. Chris Martin do Coldplay, Julia Michaels, Stargate e Justin Tranter todos trabalharam com Ora no projeto. Andrew Watt, que co-escreveu o smash de 2016 de DJ Snake, “Let Me Love You” com Justin Bieber, acredita que o álbum-ainda-sem-nome, irá revelar Rita como não apenas uma estrela da música americana, mas algo muito maior.

“Trabalho com ela muito de perto e presto muita atenção em cada detalhe de sua voz”, diz Watt. Ele adiciona, com uma seriedade mortal: “Não olho para ela como Rihanna, Katy Perry, ou qualquer uma dessas pessoas. Eu literalmente a vejo como, tipo, Janis Joplin. Sabe? Janis Joplin, Ella Fitzgerald, Donna Summer. Essas cantoras”.

Ora desvia dessas comparações, mas permanece não tão quieta quanto a suas ambições. A cantora diz que está aperfeiçoando seu plano para invadir a América por certo tempo — conseguindo o respeito de colaboradores no estúdio, deixando seu álbum de estreia americano com os mais perfeitos componentes amigáveis para as rádios, entrando em diversos projetos não-musicais para continuar nos holofotes enquanto seu drama com a gravadora era resolvido nos bastidores. Tudo o que ela faz, ela insiste que é para o bem de sua carreira musical. “Sabe quando você constrói uma tenda, e você coloca as estacas no chão e essa é a forma que sua tenda vai ter?”, ela pergunta. “Sei que esta é uma metáfora muito estranha, mas sinto que é isso o que eu tenho feito.”

A tenda foi construída, e sua resistência está prestes a ser testada. Ora sabe que o público americano não conhece sua música como deveria, mas ela está confiante que seu reino de hits irá se estender para além do Atlântico. “Não tive minha chance ainda”, ela diz. “Mas está chegando muito em breve. Acho que as pessoas querem ver aonde o meu coração repousa. E acho que eles conseguirão ver isso”.

Conforme a van balança pelo centro da cidade, Ora menciona que tem apenas umas poucas horas restantes em Nova Iorque, daqui a pouco ela terá que ir para o aeroporto e voar para Londres, aonde ela irá se preparar para o festival Glastonbury no final de semana seguinte. “Não tenho realmente qualquer hora parada”, diz Ora que está constantemente cruzando o Atlântico. O que Ora faz em aviões?

“Nos aviões eu gosto de escrever”, ela diz. Ela não está falando de músicas. “Tenho escrito essa coisa chamada Diários de Aviões, e é sobre, sabe, se alguém solta um pum no avião, ou se eu acabo falando com alguém”, ela explica. “E´sobre tudo o que acontece no avião. Tipo, a comida pode ser ruim ou incrível. Se eu tentava dormir mas estava congelando”. Ora está convencida que as linhas de aviação acordam os passageiros abaixando a temperatura em múltiplos graus antes de aterrizar. “Essa é a minha epifania”, ela diz. “Tipo, você tem que acordar porque você está congelada!”.

Quando ela era uma menina de um ano de idade, Ora, (nascida Rita Sahatçiu) viajou com seus pais para West London do Kosovo, e começou a inalar música britânica nos anos depois de se realocar. “Comecei a ser obcecada com punk”, ela diz, “e então virei uma menina do grime, porque essa é minha cultura. Vim do subúrbio, então o grime entra no nosso sangue”.

Nos anos que se seguiram, noites de microfone aberto, participações pequenas, uma audição no Eurovision e eventualmente acabando na Roc Nation, levou ela para uma carreira pop, mas ela lista artistas do grime como Ghetts, Wretch 32 e Skepta como heróis pessoais. Ora assiste vídeos de performances de hip-hop britânico desde antes dela ter idade para ir nos shows, e estuda a intensidade da plateia dos MCs. “Cresci e aprendi sobre a cultura”, ela explica. “Eu pensava, ‘gostaria que minha fã-base se torne algum dia como isso’”.

Nos anos seguintes de desenvolver seguidores do outro lado do oceano, Ora deveria estourar nos Estados Unidos em 2012. Jay-Z havia contratado Ora para sua gravadora, deu a ela uma participação em seu vídeo de “Young Forever” e a colocou na edição de estreia do seu festival Made In America no mesmo ano. Um dia em Fevereiro de 2012, Jay-Z decidiu levar Ora para os estúdios da Z100 em Nova Iorque e tocar “How We Do (Party)” — uma faixa dance que tira seu refrão do hit de Notorious B.I.G., “Party and Bullshit” — no ar ele mesmo. Ele deu uma amável introdução antes de dar o play.

“Isso foi muito espontâneo” Jay-Z disse na época. “Viemos ver alguns grandes amigos aqui na Z100 no meu bairro e sabíamos que eles iriam gostar do que iriam ouvir, porque Rita é incrível”.

Para Ora, ter essa especie de aprovação vinda de Jay-Z — que foi mentor para eventuais super-estrelas como Kanye West, Rihanna e J. Cole — foi um sonho e muito mais impactante do que simplesmente ter a lenda do hip-hop como seu patrão na gravdora. “Senti como es estivesse no topo do mundo”. Ora se lembra como “How We Do (Party)” e o single seguinte, “R.I.P.” (com a participação de Tinie Tempah) ambos atingiram #1 no Reino Unido, mas falharam em colar nas rádios americanas. ORA, um disco de estreia com colaborações de Sia, Diplo e Will.i.am, foi lançado no outro lado do oceano em agosto de 2012 mas nunca chegou nas prateleiras americanas.

Mesmo enquanto seus singles tiveram um desempenho baixo na America, Ora implorou para sair em turnê no US, baseada no encorajamento pelas mídias sociais que ela estava recebendo de fãs em Nova Iorque, Boston e Los Angeles. “Eu tinha uma vibe ‘cool’ online acontecendo, uma presença”. ela diz. Sua equipe não queria fazer a turnê, mas Ora insistiu.

“Financiei minha primeira turnê americana eu mesma, ninguém soube disso”, ela diz. “Eu disse pra minha equipe na época, ‘Eu realmente acho que deveria ir e tentar… não em locais muito grandes, mas algumas centenas. E eles disseram: ‘Não, qual o ponto? Você não irá lançar música aqui’ e eu respondi ‘Eu irei mostrar o ponto: olhe meus seguidores. Olhe o quão ativa tem sido minha presença online com o Instagram e o Twitter. Vocês estão perdendo o ponto. Ese é o futuro! Essa é a minha geração’”.

Após Ora performar em algumas dezenas de shows na Europa no começo daquele ano, ela tocou em cinco cidades americanas no outono de 2012 e, mais importante, a tour fez Ora conhecer uma rapper emergente chamada Iggy Azalea, que abriu em algumas datas. 18 meses depois do final da turnê, Azalea teve Ora cantando o refrão no single “Black Widow”, uma peça de vingança-pop co-escrita por Katy Perry. A música atingiu o número 3 no Hot 100. No final, Ora alcançou sucesso nas rádios americanas junto com sua antes artista de abertura de shows e futura nomeada a Melhor Artista Estreante no Grammy. “Eramos duas meninas que fizeram seus trabalhos juntas na turnê e acabaram tendo um hit, o que foi fantástico para ambas de nós”, Ora diz.

E assim como Azalea sofreu para lançar novas músicas seguindo um apíce comercial em 2014, assim sofreu Ora, que lançou um single solo (“Poison”) no ano seguinte, mas que provou ser incapaz de conectar-se com as rádios sozinha, e não conseguiu fechar uma data de lançamento de um álbum. Em dezembro de 2015 Ora abriu um processo contra a Roc Nation, citando o crescente foco da companhia em esportes e streaming como uma das razões pela qual ela ficou “órfã” como uma artista no braço de gravadora da companhia. “O relacionamento de Rita com a Roc Nation está irrevogavelmente danificado”, diz o processo, demandando a quebra de contrato imediata, citando a lei de sete anos da Califórnia, que proíbe que contratos de serviços pessoais durem mais de 7 anos. Ora e a Roc Nation entraram em acordo em Maio de 2016 e a cantora assinou um contrato lucrativo com a Warner Bros. um mês depois. (Roc Nation não respondeu os pedidos de comentários da Billboard até o momento da publicação desta entrevista).

“Não era capaz de lançar músicas por motivos pelos quais não posso falar legalmente no momento”, diz Ora, agora sentada em um sofá na recepção do Bowery Hotel enquanto sua equipe pega alguns itens antes de levá-la ao aeroporto. “Haviam momentos aonde eu estava super-frustrada, mas haviam momentos em que eu percebi que tudo acontece ou alguma razão e deveria ser paciente. E é isso que eu tinha que ficar dizendo para mim mesma”.

No meio tempo ela decidiu perseguir muitas oportunidades não-musicais o possível para manter sua visibilidade firme nos Estados Unidos. Ora apareceu em filmes como Cinquenta Tons de Cinza e Nocaute, enquanto assinou como a apresentadora do America’s Next Top Model e o reality em andamento Boy Band; ela também conseguiu contratos com Donna Karan e Roberto Cavalli, apareceu em propagandas para a Coca-Cola e Samsung e trabalhou com a Adidas em uma linha de roupas esportivas. E, fora do previsto, Ora foi manchete por uma separação complicada com Calvin Harris em 2014 e foi injustamente envolvida na busca da “Becky With The Good Hair” quando Lemonade de Beyoncé foi lançado no ano passado.

Essa superexposição criou um efeito perturbador para a audiência americana que estava vagamente ciente de sua carreira musical. Ora estava constantemente na periferia – nas telas de TV, nos cantos de filmes, em grandes anúncios e páginas de revistas – mas não oferecia músicas no meio de seu estrelato. Ela era constante nas mídias sociais, mas nunca vista nos charts. E essa dicotomia deu a Ora uma espécie de notoriedade distorcida na cultura pop.

Em Outubro de 2014, um tweet na conta de Ora dizia “lançando minha música na segunda se isso tiver cem mil retweets”, uma mensagem que foi deletada após receber pouco mais de dois mil retweets. Horas depois Ora escreveu que seu twitter foi hackeado e a nova música que foi anunciada era falsa. Mas o BuzzFeed ainda fala que a estratégia foi uma massiva falha no Twitter, postando muitas respostas que duvidavam da negação de Ora.

Em 2015 Wendy Williams perguntou em seu talk show “Quem é essa mulher?” quando mostrava a capa da Marie Claire britânica com Ora, em um vídeo que viralizou. Um ano depois Williams convidou Ora para seu programa, e perguntou para a cantora: “Conheço você como a menina da moda. Toda revista que você abre, você sempre vê Rita Ora, e eu sempre digo, uau! Mas o que mais ela faz, mas o que mais ela faz? Agora eu sei”.

Em 2016 o podcast “Who? Weekly” sobre sub-celebridades (também conhecidos como “whos”) estreou, assim como seu segmento semanal “O que Rita Ora está fazendo?”, aonde os apresentadores Lindsey Weber e Bobby Finger dissecam as atividades “mundanas” de Rita Ora nas mídias sociais, tabloides e além. “Ela é um exemplo perfeito para nós, porque ela é famosa em outro continente e quer ser famosa aqui”, Finger explicou em uma entrevista com a Slate. “Ela tem uma vontade, um gosto por isso, e acho que é por isso que ela está tão perto de ser famosa por muito tempo”. (Detalhe: Weber e Finger são amigos do autor deste artigo).

Nenhuma dessas coisas mataram a carreira de Ora, até mesmo as atualizações semanais do “Who? Weekly” se tornaram apenas uma pequena brincadeira da cantora, que eles chamam de “Rainha Who”. Mas Ora, uma grande estrela do pop em seu país nativo, entende como ela é vista pelos Estados Unidos, e mal pode esperar para mudar sua imagem. “Acho que as pessoas… sabem que eu trabalho, e muito”, ela diz com cuidado sobre sua imagem publica nos Estados Unidos. A percepção de mim é diferente em diferentes regiões. Lancei um álbum do outro lado do oceano, fiz festivais, toquei no Pyramid Stage no Glastonbury — que para mim é um palco icônico para se estar. E aqui eu meio que… fiz de tudo um pouco? Como em participações, TV. E eu apenas fiz isso porque eram as únicas coisas que eu podia alcançar naquele momento”.

Isso vai mudar, Ora diz, agora que seu alcance pop finalmente pode se expandir pelo mundo pop. “Música não pode esperar nunca”, ela declara. “Quero dominar tudo. Trabalho muito duro para me certificar de que não serei rotulada por algo que eu não sou”.

Como “Your Song” e seu excelente hit de 2014 no outro lado do oceano “I Will Never Let You Down”, as faixas que farão parte do álbum de estreia americano de Ora fluem como máquinas com bastante óleo, com a cantora entregando um refinamento vocal sem exagerar em qualquer ponto, conforme varia por várias produções uptempo. “Falling To Pieces” brilha com um refrão com trompetes, enquanto “Summer Love” explode com um refrão drum-and-bass com uma imediaticidade que Ora poucas vezes abordou. Para a doce e colorida “Girls”, Ora diz que trabalhou com Charli XCX e Mø,com o refrão indo em “Sometimes, I just wanna kiss girls” em cima de uma batida piscante. As músicas capturam com sucesso o estado atual de Ora, uma pessoa que se descreve como um “animal de festas” com um olho na idade adulta. Se elas não impactarem com certeza, elas são pelo menos boas apostas.

Watt diz que Ora voou ele e sua parceira de composições, Ali Tamposi (Kelly Clarkson, Lea Michele) para Londres para trabalhar no álbum no ano passado, e que a cantora levava com frequência sete de seus melhores amigos e membros da família para o estúdio para ouvir novas músicas e dar opiniões. “Uma noite, eu fiz essa música para elea e nós precisávamos de um baterista”, Watt relembra. “Todos falavam, ‘Vamos pegar o baterista da Adele’, e eu disse, ‘Não, estamos em Londres. Vamos ter o baterista de David Bowie’, e eles perguntaram ‘Esse cara ainda tá vivo?’, e eu disse ‘Não sei, mas eu vou caçá-lo e trazê-lo aqui!’”.

E com essa certeza, Ora e companhia trouxeram Mick “Woody” Woodmansey, de 66 anos, o último membro vivo do lineup de Ziggy Stardust, banda de Bowie, para tocar a bateria em uma faixa. “Ele tocou e arrasou”, elogia Watt, “e então todo mundo saiu aquela noite, e acho que ficamos acordados até sete da manhã”.

Olhando pro passado, Ora descreve o processo de gravação como “sem esforço” uma vez que sua situação com a gravadora foi arrumada. Depois de gravar metade do álbum em Londres, ela foi pra Los Angeles, com a intenção de ficar por uma semana, e acabou gravando por meses com vários compositores. “Todo dia iamos para o estúdio, fazíamos músicas, saíamos, ficávamos bêbados, e ouvíamos as músicas de novo e dizíamos ‘Isso é ótimo!’ ou “Isso não está funcionando'”, Ora relembra. “E no dia seguinte nós íamos e aperfeiçoávamos ou trabalhávamos em algo novo”.

É fácil de entender o porque dos maiores produtores e compositores querem trabalha com Ora. Apesar dos falsos começos de sua carreira americana, ela é cuidadosa como é em sua carreira profissional, é uma grande companhia e uma nerd quando se fala em música. Enquanto ela come um pedaço de pizza cheia de molho tabasco (“eu coloco em tudo”, ela confessa), Ora começa a listar novos artistas que ela tem estado obcecada no momento: Raye, H.E.R., Billie Eilish, NAO. Ela amaria falar sobre o porque de Boy In Da Corner de Dizzee Rascal é um de seus álbuns favoritos de todos os tempos, mas ela precisaria de uma hora para isso, não os poucos minutos que lhe restam antes de sair pro aeroporto. Ela ouviu que Ctrl de SZA debutou em #3 no chart de álbuns da Billboard e acha isso fantástico.

Em poucos meses, um álbum de Rita Ora deverá estrear na Billboard 200 pela primeira vez. Esse é o momento que Ora tem esperado por anos: uma chance honesta de se tornar uma estrela pop na América, de ter a sua mensagem sendo transmitida sem adulterações através de um corpo de trabalho completo. Ela diz que seu álbum representa quem ela é, completamente. Se não funcionar aqui, pelo menos ela o compartilhou em seus próprios termos.

“Mal posso esperar para o mundo vivenciar minha visão e meu som”, Ora diz. “Tenho amigos incríveis nessa indústria que eu respeito e que me respeitam, pela minha ética de trabalho e pelo meu conhecimento de música, e pelo meu amor pelo punk e meu crescimento em aprendizado. Surpreendo muito as pessoas apenas com meu conhecimento sobre música”.

“Acredito que as pessoas julgam um livro pela capa”, ela conclui sobre si mesma. “Mas não nesta vez”.