Contratos ruins com gravadoras, rumores de tabloides e o status de “garota do momento”. Rita Ora com certeza passou por muito na sua pequena carreira musical. Agora, com o iminente lançamento de seu novo álbum, “Phoenix”, a cantora está destinada a retornar ao lugar aonde pertence: o topo.

Poder de estrela é algo que é difícil de descrever, mas quando você vê, dificilmente esquece. Meu último vislumbre de uma entidade não-mensurável como essa foi há algumas semanas quando uma mulher de 27 anos ficou sozinha num palco cantando uma rendição acapella de “I Have Nothing” de Whitney Houston e segurando uma nota que deixaria a lendária diva do soul orgulhosa. Em meio a um mar de telefones transmitindo ao vivo acima de suas cabeças, a multidão foi do quase-silêncio à uma explosão de euforia. Eles, assim como eu, sabiam que testemunharam algo especial. Uma estrela no auge de seus poderes.

Revelando, a mulher no palco em um monocromático e ousado vestido com cabelos platinados não era uma moça comum de 27 anos. Era Rita Ora, a vencedora de múltiplos prêmios e artista de vendas platinadas. Ela voou para Dubai esta manhã para se apresentar em um evento particular para celebrar a centésima edição da Esquire Middle East.

Quinhentos convidados com convites exclusivos se amontoaram no estonteante Sean Connolly no restaurante Dubai Opera. Nos dias que se seguiram, era o assunto da cidade, e continuou sendo por várias semanas. Na realidade, o chef responsável veio voando de Sydney apenas para trabalhar no evento. Outro sinal de verdadeiro poder e estrela.

Sorrindo e brincando no palco enquanto cantava rendições de seus grandes hits “Your Song” e “Lonely Together”, estava claro que a infecciosamente carismática Ora está em um bom momento, surfando na crista de uma nova onda que está prestes a se quebrar. E o público frequentemente difícil-de-agradar feito da sociedade de Dubai estava pirando, feliz de respirar o ar que ela respira.

No dia anterior, quando ela entrava no avião para Dubai, Ora divulgou a notícia de que ela estaria lançando um novo álbum, “Phoenix”, em 23 de Novembro. Em menos de 24 horas, ele estava no topo das paradas de pré-venda no iTtunes mundial. Apesar de que parece que ela tem jantado na mesa principal da indústria da música por muito tempo, “Phoenix” é apenas o seu segundo álbum, seu primeiro em seis anos.

“Me sinto uma nova artista”, ela diz, horas antes da festa, sentada na minha frente em uma suíte no reinaugurado Address Downtown em Dubai. Ela está enrolada num roupão, o cabelo preso em bobes. Com o anúncio do álbum ela está apenas começando um grande empurrão publicitário, o que significa que depois do evento da Esquire, ela irá num jato para Milão às duas da manhã para o começo da semana de moda. Ela acabou de acordar de uma soneca induzida por jet-lag e enquanto conversamos animadamente sobre seu novo álbum, ela começa a olhar a salada Caesar e a sopa de galinha que o serviço de quarto acabou de trazer. Seus olhos se demoram na sopa um pouco mais, antes dela se desculpar e continuar o assunto.

“Eu não sabia qual era meu lugar na indústria da música já que fazia muito tempo desde que eu havia lançado música. Mas estou fazendo as coisas diferente dessa vez”, ela explica. “Estou tentando modernizar o jeito que a música tem ido ultimamente, e por causa do streaming online, não existem mais regras na verdade”.

Como ela tentou fazer isso, eu pergunto. “O que as pessoas estão atrás realmente é conteúdo. Eles só querem música, mais música, constantemente. Eles não querem se sentir forçados a ouvir um álbum inteiro, e então é por isso que eu comecei a alimentar todos aos poucos com o lançamento de alguns singles sem mencionar que um álbum estava se formando. Quis lançar cada música quando eu senti que elas estavam prontas, não bombardear as pessoas com todas de uma vez”. Essa abordagem tem sido um sucesso de marketing, com três das quatro músicas de Ora atingindo o número um nos charts (‘Your Song’, ‘For You’ e ‘Girls’ [Nota do tradutor: essa informação está incorreta]). A única que não conseguiu, sua música ‘Anywhere’ estreou no número 2. “Beyoncé e Ed Sheeran tinham que lançar seu dueto na mesma semana! Eu fiquei tipo, ‘ah pelo amor de Deus!’”, ela brinca, com seus olhos brilhando de diversão.

É uma coisa estranha ficar sentado assistindo uma mulher linda em um camarim rindo e ocasionalmente tomando um pouco de sopa de galinha explicando como ela está tentando (e subsequentemente conseguindo) revolucionar o jeito que a indpustria da música trabalha por completo. Mas isso, eu venho a descobrir, é o que você consegue com Rita Ora. Uma mulher determinada e sem filtros que está muito confortável com quem ela é e o que ela quer. Nascida Rita Sahatçiu, a família da cantora viveu na parte da Iugoslávia que hoje é o Kosovo. Em 1991, eles voaram para Londres com seus pais e sua irmã mais velha, Elena, antes dela ter um ano de idade.

Os Sahatçius são Kosovares de descendência Albanesa e como a antiga Iugoslávia estava borbulhando com tensão racial, o governo Sérbio em Belgrade havia institucionalizado um sistema de apartheid aonde Kosovres tinham o acesso a educação e saúde negados e eram intimidados à uma variedade de coisas explícitas e implícitas. Os Albaneses retaliaram contra a opressão da Sérvia. As sementes de uma guerra brutal haviam sido semeadas e, apesar de que os combates não aconteceram até 1998, se você estava no Kosovo em 1991 havia um sentimento real de que as coisas não acabariam bem. Os Sahatçius eram muito educados, com diplomas universitários e uma vida social invejável. A mãe de Rita, Vera, era uma doutora. Seu pai, Besnik, tinha alguns negócios. Eles andavam com intelectuais, empresários e profissionais de vários segmentos. Mas em 91, sua situação era intolerável.

Em Londres, a família dividiu uma série de minúsculos apartamentos enquanto começavam do zero. Elena e Rita falavam em albanês na casa. Vera cuidava das crianças. Besnik achou trabalho. Aos 11 anos era claro que Rita tinha um talento muito especial, um que ela anteriormente descreveu como um super poder. Ela logo foi aceita no Sylvia Young Theatre School, então seu pai decidiu quem uma mudança era necessária. Se Rita se tornasse uma estrela, ele queria que as pessoas fossem capazes de pronunciar seu nome. Sahatçiu significa “construtor de relógios” então ele adicionou “Ora” no sobrenome da família. Significa “hora’. Ironicamente, mesmo com suas desculpas, Rita deixa a desejar com sua pontualidade.

Aproveitando o máximo de seus talentos, Rita aceitava oportunidades de se apresentar em pequenos locais em Londres, e seu nome começou a se espalhar. Em um desses shows, um representante da gravadora de Jay Z, Roc Nation, a notou e voou com ela para Nova Iorque para se encontrar com seu chefe. Foi oferecido a ela um contrato lá e apenas três anos depois ela finalmente lançou seu álbum de estreia. Foi seu foguete. Em 2012 a carreira da jovem cantora explodiu. Três músicas, “RIP”, “How We Do (Party)” e “Hot Right Now” (com DJ Fresh), se tornaram hinos das festas. Todas alcançaram o número um. Mas problemas estavam à frente.

Enquanto seu contrato com a Roc Nation era de cinco álbuns, Ora apenas lançou um. Ela entrou com um processo alegando que foi negligenciada pela companhia. Em resposta, a Roc Nation a contra-processou, mas o caso foi eventualmente resolvido amigavelmente em 2016. O acordo finalmente a libertou para assumir o controle de sua própria carreira. Hoje ela é gerenciada por sua irmã, Elena. “O que eu passei foi uma situação muito estranha e difícil que eu nunca gostaria que outros artistas passasem”, ela explica. “Foi política e difícil e eu continuava a pensar ‘por que EU?!”, mas eu superei e estou aqui agora”. De repente, o nome de seu novo álbum ganha um novo peso e importância.

Algumas semanas antes, a equipe da Esquire Oriente Médio está num set no Norte de Londres matando o tempo enquanto espera Ora finalizar seu cabelo e maquiagem. A vida atribulada de uma A-List significa que sua manhã foi repleta de aparições em rádios e apesar de já estar incrível, a preparação para o ensaio demanda sua atenção completa. Três horas de atenção. Você não pode apressar a perfeição. No set ela é uma bolha de energia, dançando com música – era o aniversário de Beyoncé então Ora pediu especificamente um pouco de Queen B para a ocasião e cantava cada palavra – e sumindo de vez em quando para mudanças rápidas de guarda-roupas. Definitivamente não é uma navegante de primeira viagem.

“Amo a moda porque é uma maneia incrível de se comunicar com as pessoas”, ela diz. “É um lugar aonde você pode se expressar facilmente, ou se esconder com a mesma facilidade”. No set, Elena e sua mãe, Vera, estão todas envolvidas. Vera ama o ensaio, dizendo que é o favorito que sua filha já fez. A equipe da Esquire respira aliviada, temos a aprovação da mãe. “Estou levando essas pra casa comigo”, ela diz, de olho em um par de botas Giuseppe Zanotti com joias encrustadas como uma criança numa loja de doces. Sendo uma presença constante na primeira fila da semana de moda, não é surpresa que ela conheça Zanotti pessoalmente, bem como outros nomes que lideram o mundo da moda: Donatella Versace, Kim Jones, Stella McCartney e Cara Delevingne.

Se você é um dos 14 milhões de seguidores de Rita Ora no Instagram, e imaginamos que muitos leitores da Esquire são, então você está bem consciente de que ela é alguém que não tem medo de mostrar o que ela tem. No dia que ela chegou em Dubai ela postou um story no Instagram dela a beira da piscina com um biquini ousado, marcando a @EsquireMiddleEast com as palavras ‘de volta em Dubai!’. Em uma hora, sites de notícias ao redor do mundo publicavam artigos sobre isso.

Perguntamos se é uma estratégia de marketing ou a auto-expressão de uma mulher orgulhosa de seu corpo. “Eu acho muito empoderador”, ela diz. “Amo estar em sintonia com meu corpo, e eu eu não vejo eu sendo sexy como uma forma de desrespeitar outras pessoas ou me promover. É uma forma de liberdade de expressão”. Ela pausa por um momento e depois adiciona: “Sabe, homens também ficam mostrando seus corpos no Instagram e ninguém dá a mínima”. É um bom ponto, e esse está bem no topo da agenda cultura. Com alguém que tem estado nos holofotes por cerca de uma década (o currículo de Ora também inclui papeis na trilogia Cinquenta Tons de Cinza e Nocaute, bem como jurada no X-Factor e apresentadora do America’s Next Top Model), ela claramente se sente confiante em usar sua plataforma para expressar sua opinião em assuntos que importam para ela, como o empoderamento feminino.

“Eu acho que iria atrasar as mulheres, se eu disser ‘sim'”, ela diz se ela sente que já se sentiu limitada por ser mulher. “Tenho visto pessoas vindo e falando coisas como o movimento #EuTambém nos últimos 18 meses e tem sido muito inspirador. Se eu for usar minha posição para dizer ‘não consegui isso’ ou ‘não conseguimos isso’, então eu acho que seria menos empoderador. No lugar disso eu quero mostrar as pessoas que eu comando meu próprio negócio, meu próprio destino e estou na melhor posição que poderia estar. Isso é inspirador e é assim que progredimos”, ela diz, finalizando as palavras com uma confiança de aço. “Não acho que sou limitada pois sou mulher, mas acho que temos que ser mais eloquentes sobre o que precisamos fazer, e não sobre o que não temos”.

Nossa conversa se move para a posição de homens dentro do empoderamento feminino, e pergunto a ela conselhos da melhor maneira de mostrar nosso apoio sem parecer que estamos forçando. “Gosto de ver homens se estressando sobre o que eles podem ou não dizer hoje em dia!”, ela brinca. “Não, mas de verdade, é mais sobre ações e menos sobre palavras. É mais sobre apoiar a mudança progressista, mesmo que significa estar apenas estar lá. Claro, se você sente que é a coisa certa falar algo, então fale, mas a chave é apoiar de qualquer maneira que você puder”.

Falando sobre usar sua plataforma por um bom motivo, outro problema no horizonte que é próximo do coração de Ora é o Brexit. Como um exemplo brilhante dos aspectos positivos da imigração, o fechamento das fronteiras éum assunto próximo do lar de Rita. “Ouça bem, sou uma refugiada e eu orgulhosamente tenho trabalhado com a UNICEF como um exemplo para mostrar o valor e os benefícios de permitir refugiados em seus países. Lembra daquele discurso que a Meryl Streep deu no Globo de Ouro? Aquele que ela apontou todo mundo na plateia que não era de Hollywood? Tipo, literalmente, todo mundo! Eu fiquei tipo ‘BOOM! Na sua cara!'”, ela diz e ri. “Coisas como essa me deixam muito feliz”.

Sem surpresa, Ora cita Madonna, outro ícone que mudou a cultura na música e no empoderamento feminino, como um de seus ídolos. Ela a escolhe quando perguntada com qual celebridade ela gostaria de viver em uma ilha deserta. “Ela é uma pessoa muito interessante que é tão inteligente e em sintonia com sua sexualidade, corpo e alma. Ela é sem dúvidas uma das pessoas mais interessantes com quem eu já me encontrei. Aposto que ela tem tantas histórias ousadas que eu nunca me entediaria”, ela ri novamente.

Rita Ora é viciante. Sua música, risada, olhos, seu Instagram, sua motivação, sua ambição. Você pode passar horas na sua companhia e irão parecer minutos. Ela sabe disso. “Me disseram que eu sou o tipo de pessoa que você tenta se livrar mas você nunca consegue me deixar”, ela diz. Depois que ela deixa o palco, um grupo de pessoas vai atrás dela enquanto ela vai pra uma sala privada. Filas se formam para tentar convencer a segurança na esperança de conseguir o maior dos prêmios, uma selfie com a estrela. Uns poucos sortudos conseguem e ela o faz de bom grado, com um sorriso e risada contagiantes. A multidão continua falando sobre ela mesmo depois que ela já embarcou num avião e sumiu pelo mundo promovendo “Phoenix”. Mas isso é porque tem algo realmente especial sobre Rita, e isso é tudo parte de seu poder de estrela. Parte de sua aura.

O segundo álbum de estúdio de Rita Ora, “Phoenix”, será lançado em 23 de Novembro via iTunes.